Sobre a Saúde Sexual dos Homens
- Postado por Francis Kich
- Categorias Saúde Integral
Já ouviu falar em ansiedade de desempenho?
Bom, se não ouviu, peço licença para comentar algumas coisas que que tenho escutado no consultório sobre como anda o sexo dos homens*:
A masculinidade hegemônica tem colocado uma série de códigos que prescreveram os modos de agir dos homens, no contexto da cena sexual, entretanto, esta mesma masculinidade hegemônica esquece de abordar o como pensar e principalmente o contato com o sentir nos homens. Sentimentos, afetos, reflexões: aspectos que parecem não estar incluídos na gramática sexual masculina, que se concentra apenas no agir.
Algumas reações como ejaculação precoce, disfunção erétil e falta de libido têm sido queixas comuns de homens que chegam até o meu consultório:
“não consigo segurar a ejaculação por mais de 5 segundos” ….
“é só a mulher tocar no meu pênis que eu brocho” …
“faço exercícios físicos todos os dias, trabalho 12h, ganho dinheiro, tenho uma vida bem-sucedida, minha mulher é linda, mas perdi a libido. É só essa parte da minha vida que não está boa doutor, só essa, de resto está às mil maravilhas” [1].
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Cada paciente é ‘um’ e não buscarei generalizar, mas vejo que boa parte das razões relativas a esses problemas se relacionam a um processo de aprendizado da sexualidade que se contenta apenas no agir, leia-se, penetrar com uma bela ereção.
No entanto parece que a ideia do “pau-duro”, se transformou num estado corporal (pênis ereto), num estado subjetivo (o super-homem). Não apenas o ‘pau’ fica duro no corpo da pessoa, mas a subjetividade se organiza de modo a responder demandas de desempenho ideais que, quando não cumpridas, se expressam por um medo de errar.
E aqui falo do medo de errar no ato sexual.
O que me leva a pensar que isso se dá em função de que o agir prepondera sobre o pensar e o sentir em sexualidade.
Penso que um aspecto da saúde sexual consiste em se permitir existir de modo inteiro, onde o sentir o pensar e o agir mantém algum grau de conexão.
. Nesse sentido, os adoecimentos se constituem quando há um afastamento ou mesmo rompimento entre esses aspectos, o que tem por consequência a separação do sujeito daquilo que ele pode.
Essa separação daquilo que o sujeito pode, se materializa em reatividades que podem se corporificar em ejaculação precoce, disfunção erétil e falta de libido.
Um processo de autocuidado e autoconhecimento se faz necessário, para reconhecer onde está a separação, onde ocorreu na vida do sujeito, a cisão ou afastamento destes aspectos. Então, a “diquinha” do dia é, conhecer-se e pensar como que, na hora h, se conecta com essas três dimensões da sua existência: o sentir; o pensar; o agir.
[1] Falas fictícias, mas que representam o conteúdo que aparece na clínica.
*Referente a homens cisgêneros localizados no âmbito da masculinidade hegemônica
Autoria: Francis Kich
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Francis Kich é homem gay, cis e em desconstrução da suas branquitudes e masculinidades. Participa do movimento LGBTQIA+ no interior do RS, embora resida em São Paulo. Possui mestrado em Psicologia social (UFS) e doutorado em psicologia (UFPE) com foco em dissidências sociais (de gênero e sexualidade) e realiza atendimento em psicoterapia clínica de base social e esquizoanalítica. Atende online pacientes do Brasil e pacientes que residem no exterior. Na modalidade presencial atende em São Paulo, no bairro Tatuapé.
Psicólogo CRP: 07 31647
Doutor em Psicologia - UFPE