Responsabilidade, Negacionismo Científico, Ética e Humanização Profissional
Responsabilidade, negacionismo científico, ética e humanização profissional.
Ao longo da minha trajetória profissional, muitas coisas me incomodaram, mas nada me incomodou mais do que a postura dos profissionais de psicologia.
Até hoje, quando alguém indica o meu trabalho, dizem que sou um “psicólogo humano”, eu tenho um misto de sentimentos ao saber disso, primeiramente fico muito contente, pois as pessoas gostam do meu trabalho, mas fico preocupado, porque de certa forma as pessoas me indicam por conta de uma qualidade que acredito ser básica, para todo psicólogo, que é ser “humano”. Ouvi muitos relatos de consulentes, sobre profissionais que tentaram inúmeras vezes propor a deplorável cura gay, alguns os levaram até seus líderes religiosos e até mesmo fizeram uma prece dentro de seus consultórios.
Alguns me diziam logo na primeira sessão, assim que eu fechava a porta: “Se você me falar de Deus, eu juro que me mato!”. E nesse momento eu sempre citava (e cito) o código de ética profissional, em que o psicólogo está vedado de induzir a pessoa atendida à convicção religiosa, política, moral ou filosófica.
Tentei inúmeras vezes, entender o que leva um profissional, a fazer tal coisa. O psicólogo pode ter sua prática religiosa, mas que isso fique em sua vida privada, o consulente não está ali para isso.
Precisamos imediatamente falar sobre este assunto de forma ampla, é importante saber em que podemos melhorar enquanto profissionais, saber em qual ponto erramos, para que esse tipo de comportamento ainda seja reproduzido na academia e nos consultórios. Existem questões muito sérias que não são consideradas, e muitos psicólogos (pasmem) pensam que é mera orientação política. A que ponto chegamos ?! Falar sobre dignidade e respeito é coisa de alguém que se coloca à esquerda do espectro político. E o pior, se no discurso houver a palavra “social”, esqueça. O seu posicionamento já está definido pelo outro.
Não acredito que seja apenas um efeito da polarização política atual, há muito mais ainda a ser discutido. O negacionismo científico, não começou hoje, há muito tempo já se falava em tom de brincadeira, que “o homem não pisou na lua” ou se formos mais ao passado, Galileu Galilei teve que negar o Heliocentrismo para preservar sua vida. O mito cresceu e as pessoas passaram a desacreditar de todas as instituições possíveis.
O sistema educacional é lucrativo, e enquanto for visto como um negócio, muitas coisas serão difíceis de serem mudadas. A desconstrução de conceitos e preconceitos, sempre será questionada, ainda mais quando alguém disser que não aceita a nota baixa, porque sempre pagou a mensalidade em dia (sim, eu presenciei isso), essa pessoa será aprovada mesmo preservando ideias rudimentares. E aquele sujeito seguirá “avançando no curso”, sem corrigir em si mesmo pontos cruciais, para a formação de um profissional minimamente ético.
Sendo assim, acredito que uma formação acadêmica responsável e preocupada com a prática da psicologia humanizada é o caminho, mas que isso não fique apenas a cargo dos alunos, é necessário que instituições e professores mantenham seu posicionamento e respaldo para cobrar essa mudança. O psicólogo precisa entender de fato que a clínica não pode ser o seu “laboratório experimental”, e sim uma extensão de toda uma rede de saúde complexa que deve visar respeito, ética e humanização.
Samir Dias
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