Qualidade e Durabilidade nas Relações Afetivas
- Postado por Sonia Menezes
- Categorias Assuntos Gerais
É necessário refletir sobre o desejo intenso que cultivamos de ter relações duradouras.
Relações que persistem, que resistem ao tempo e às diversas provações da convivência podem, sim, apresentar qualidade ; entretanto, está longe de podermos afirmar que o fato de que uma relação é duradoura significa que os envolvidos “estão de parabéns”.
Hoje em dia, estamos vivendo um modelo contemporâneo de relacionamentos, que querem se dirigir para uma experiência enriquecedora, muito mais horizontal, onde as pessoas compartilham dos mesmo deveres e direitos, na relação. Isso vem se desenvolvendo, em grande parte, por influência do desenvolvimento do feminismo, que retirou a mulher da posição de tutelada e transportou-a à posição de protagonista, de suas histórias.
Esse novo jeito de se relacionar ainda está em sua primeira fase, e muito se aprimorará nas próximas gerações, visto que em toda essa dinâmica de renovação de visão de mundo e busca por equidade de gênero, as mulheres estão mais bem situadas do que os homens. Isso acontece, porque os homens não têm um modelo a seguir, um ancestral que não tivesse sido machista. Importa ressaltar, aqui, que o machismo estrutural é uma base de relacionamento e não significa sinônimo de crueldade com as mulheres. Há machistas cuidadosos e corteses, cavalheiros, verdadeiros príncipes. Mas que não validam a força e a potência realizadora femininas como iguais às de um homem, jamais.
Querido(a) leitor(a),
fazendo um tour pelo portal Libertária Mente, você vai encontrar todos os nossos artigos, e olha que legal: todo mês, pode ganhar brindes novos! Além disso, vai curtir conhecer a loja e os cursos. E pra você que produz conteúdo sobre consciência crítica, estamos com as inscrições abertas para redatores voluntários. Venha fazer parte da Libertária Mente!
Essa semana li um absurdo que quase me fez cair de costas:
“Mulheres, não busquem por um homem sensível, compreensivo e delicado. Estes também estão buscando por homens”
O preconceito incutido nos homens, pelo patriarcado, só se conclui om sucesso, quando o menino, ainda pequeno, é punido com palavras duras, para que abandone sua sensibilidade, sua capacidade de se aproximar emocionalmente e sentir junto, em relação às outras pessoas. E quem não conseguir, será humilhado, chamado de maricas e terá sua masculinidade questionada.
Como se ser gay fosse um erro, uma fraqueza! E como se a masculinidade que se exije, fosse, realmente, saudável e desejável.
De qualquer maneira, quando chega-se à situação de relacionamentos, o modelo antigo, da família nuclear e patriarcal, vai instituir que os relacionamentos afetivos devem evoluir de namoro para noivado e de noivado para casamento. E esse casamento deve ser indissolúvel.
Dessa forma, muito, inúmeros relacionamentos afetivos foram (e ainda são) mantidos à base do “tem que ser assim”. E as adaptações são as mais diversas, desde anulações até relações francamente abusivas. E quando um não está aguentando, é acusado de não ser diligente para relacionamentos.
Felizmente, as pessoas estão percebendo mais e mais a nocividade de relações que duram apenas por durar, para cumprir o protocolo de uma cultura ultrapassada, que não se encaixa mais nas necessidades de construção de cidadania de nosso tempo.
Existe um mal estar que ronda, sobre a incerteza do que deve ser construído, afinal. Medos de volubilidade, de insegurança, de abandono, ghosting, negligência – como se o compromisso afetivo estivesse atrelado apenas ao modelo de permanência obrigatória. Felizmente esses são medos infundados, reflexo, apenas, de um momento de novas construções de parâmetros.
Responsabilidade afetiva independe do tempo de relação, é algo que se manifesta intencionalmente, desde as primeiras ações. É algo para o que temos que ser reeducados, mas é viável, está super ao alcance.
E a responsabilidade afetiva abre espaço para outro fenômeno, que é a intimidade com confiança e vulnerabilidade, onde os participantes da relação conseguem expor suas necessidades e as D.R.s são saudáveis, isentas de acusação, e criam espaços de conexão íntima.
Adivinhem o que acontece, quando num relacionamento afetivo, as pessoas fortalecem laços dessa forma, sem medo um do outro, apostando um no outro, construindo sonhos juntos?
Eles se tornam muitíssimo mais aptos a vencerem barreiras, conquistarem desafios, derrubarem obstáculos… e a relação tem uma tendência a, assim fortalecida, durar.
Esse é o incrível paradoxo que se apresenta: ao reconhecer que somos livre, que o outro não é obrigado a permanecer, os cuidados e a responsabilidade podem aumentar em qualidade, e assim, tornar a relação mais capaz de perdurar.
É necessário verificar, internamente, sobre as motivações de se permanecer num relacionamento.
Somos seres gregários, precisamos nos relacionar. E relacionamento afetivo consegue ser uma modalidade fortalecedora, pois abre espaço para amor profundo.
O que não podemos, é continuar romantizando relações duradouras a qualquer preço.
Autora: Sonia Menezes
Relacionado
Sonia Menezes é escritora e psicóloga clínica, especializada em telepsicologia. Com formação em Psicologia, conta com uma Extensão em Ética de Direitos Humanos, e é pós-graduanda em Antropologia e Psicologia Social , e também em Diversidade Sexual e de Gênero. Autora do livro “O Amor, o Amar e os Amantes – Uma conversa sobre relações mono e poliafetivas”. Idealizadora dos projetos:
*Rizoma – Psicologia e Saúde Integral
*Zeitgeist – Grupo de Reflexões sobre Tecnologia e Psicologia
*Co-criar – Mulheres da Mantiqueira
*LibertAmor – Estudos sobre Amor e Relacionamentos.
Amante da natureza, cultiva profundo respeito pela alteridade, solidarizando com os movimentos de libertação humana e libertação animal. Sonha com um mundo onde o sofrimento seja minimizado e acredita que o caminho é o despertar da consciência crítica.