Por que Discordamos?
- Postado por Thiago Venco
- Categorias Filosofia
Aqui, esta pergunta não refere-se a “nós”, eu e você, leitor. Quero dizer: por que, para nós humanos, é quase inevitável que realizemos diariamente esta ação em particular – discordar?
Por que somos tão dependentes deste comportamento, que tem características singulares, que o diferenciam de outras formas de comunicação? Qual a necessidade vital das discordâncias em nosso convívio – essa talvez seja a questão crucial da Teoria do Desacordo, que começo a apresentar neste texto, o primeiro de uma série que visa explicar essa proposta inovadora, passo a passo.
Uma teoria nada abstrata, ao contrário: extremamente prática, quer jogar luz sobre situações comuns, que qualquer um experimenta. Esta teoria propõe respostas para as perguntas acima; elas serão, inevitavelmente, respostas evolutivas. A evolução das espécies foi determinante para que o homo sapiens chegasse até o oceano digital de discordâncias e concordâncias em massa na internet. Seguindo esse fio primitivo, há, portanto, uma história a ser contada que é anterior ao nascimento de certas habilidades que seriam exclusivas do humano: a moral, a ética, a cultura, o bom senso, a lógica, a argumentação e a própria noção de “verdade”.
Esta independência é extremamente importante; não por um desejo anacrônico de “objetividade isenta, livre de qualquer subjetividade”, mas sim por nos oferecer um método para discernir os desacordos que pode ser aplicado por observadores externos. Essa é uma vantagem significativa, pois, como veremos, esse campo das discordâncias é profundamente marcado por estratégias da camuflagem – aquelas que enganam a percepção, em especial, afetando o nosso juízo sobre os riscos de uma situação.
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Consequentemente, esta ênfase na análise dos problemas das percepções ajuda-nos a entender por que jogar com as aparências, criar ambiguidades no discurso, é algo inerente a estes tipos de comunicação.
Vejam que o mimetismo, a estratégia de desaparecer na paisagem ou ser percebido como algo diferente daquilo que se é de fato, de modo algum nasceu na Terra junto com os conflitos e pactos humanos; enganar a percepção de predadores é uma estratégia de sobrevivência que perdura a milhões (ou bilhões) de anos – nós, animais, as herdamos de outras espécies que nos antecederam.
Sei que essa jornada de conhecimento sobre as dinâmicas do discordar será desafiante – ainda que a Teoria do Desacordo em si caiba em menos de uma página, pois consiste de apenas 21 frases (as proposições que podem e devem ser refutadas, testadas) – enfim, sabendo que este percurso exigirá do leitor revisões nas suas atuais formas de conceber a natureza social humana, para permitir que se enxerguem “elementos escondidos na foto onde aparentemente só se vê paisagem” – quero propor que você comece desde já a experimentar, no seu dia a dia, um exercício que nos permite localizar com grande precisão onde estão as discordâncias e concordâncias ocultas, camufladas, disfarçadas – até num diálogo aparentemente despretensioso.
Foi uma amiga minha que concebeu o seguinte “resumo da história”, ao tentar explicar a teoria para outra pessoa, durante uma conversa informal: “Imagine que por trás de toda discordância existe uma percepção de risco”.
Quando você discordar de alguém ou alguém discordar de você, procure localizar: qual risco se está percebendo em tais 1) decisões/atitudes ou 2) crenças/ideias? Note que ninguém discorda de um vulcão, de um tsunami ou de uma avalanche.
Somente discordamos de outras pessoas – pois percebemos riscos no que fazem ou no que acreditam; vemo-los como “fonte de risco”, aquilo que num futuro imediato ou distante possa vir a causar “esforço indesejado”.
Importante frisar que a Teoria do Desacordo se filia a um realismo onde as ideias e crenças, ainda que possam durar para além da vida de alguém em particular, estão sempre vinculadas a um ou mais “portadores”, a alguém que esteja representando-as materialmente.
Porém, essa ressalva é apenas a ponta de um enorme iceberg de notórios desacordos filosóficos, que opõem idealistas e realistas, empiristas e metafísicos, céticos e crentes… é cedo para adentrar essa via.
Por ora, pense nisso e faça o teste sozinho:
Procure ver as percepções de risco camufladas não só na natureza digamos “instintiva”, mas também na mais organizada justificativa, fundamentação, raciocínio ou discurso.
Na próxima continuamos!
Autoria: Thiago Venco
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Eu, Thiago Venco formei-me em Cinema na Universidade de São Paulo, onde comecei na dramaturgia meus estudos sobre a teoria dos conflitos. Segui carreira na administração de empresas, onde percebi que diversos problemas organizacionais demandavam as técnicas de mediação de disputas. Decidi empreender na área da resolução de conflitos online, lançando duas plataformas digitais: 1Acordo, para a realização de acordos extrajudiciais coletivos, e o app Mudar ou Manter, que fazia três diagnósticos sobre os problemas da convivência em grupo. Minhas startups não tiveram sucesso comercial e foram encerradas. Porém, os anos de pesquisa na criação de ferramentas práticas acabou gerando, de forma totalmente inesperada, a Teoria do Desacordo. Hoje vivo em Portugal com minha companheira Maia e nossos dois filhos adolescentes. Ganhamos dinheiro com nosso restaurante, a Casa do Mar Sem Fim, enquanto eu preparo a defesa da teoria, que vou sustentar em um PhD em filosofia.
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