O que é necessário para nos chocar?
- Postado por Samir Dias
- Categorias Cidadania
É comum ouvir por aí, “eu não tenho preconceito”, “eu respeito todos igualmente”. Falar da boca para fora é muito simples, pois é politicamente correto e você ainda fica bem-visto.
A pergunta que precisa ser feita como autocrítica, todos os dias é “por que me incomodo tanto com a vida alheia?”. Independentemente de qual preconceito a que se refira, é necessário olhar para dentro, refletir, questionar a si mesmo.
O mundo sempre teve seus absurdos, é verdade, mas vivemos em uma época em que a barbaridade é registrada e amplamente divulgada, vivemos em um país onde a escravidão foi abolida legalmente há 133 anos, mas que de fato ainda existe.
No Brasil, é comum ver pessoas questionando a existência do racismo, fascismo, homofobia, e até mesmo há os negacionistas da ditadura. Me questiono com frequência, o que choca nossa sociedade?
Coloca-se em xeque, as mais de 600 mil mortes, vítimas da covid 19. Mas me lembro ainda, em fevereiro de 2020, antes do primeiro caso da doença por aqui, era comum ver postagens solicitando que se fizessem preces pela Europa e Ásia.
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Onde foi parar o nosso incômodo?
Quando o vírus chegou no continente americano, cresceu uma onda xenofóbica que gerou a agressões físicas e verbais, culminando em conflitos diplomáticos que só pioraram o que já estava péssimo.
O preconceito não pode ser entendido apenas na ação, ele precisa ser compreendido naquilo que você cultiva e tolera todos os dias, “coisas que passam despercebidas”.
Quando empresas abrem processos seletivos, o que se busca? Experiência? Pessoas dispostas a aprender? Conhecimento técnico? Ou as escolhas são baseadas na foto? Se a aparência for critério de eliminação, o problema não é o candidato, o problema é aquilo que te constitui enquanto sujeito.
O discurso não adianta nada quando ele é vazio. Precisamos mudar atitudes, compreender como e por que, nos incomodamos tanto com a vida alheia. É necessário ter empatia, imagine-se no lugar daquele sujeito que sofre críticas.
Quando uma pessoa está grávida, dizem: “que nasça com saúde”, mas você já se perguntou, e se não nascer com saúde? O que você vai fazer? E se sua filha não quiser o balé, e seu garoto não se interessar pela bola? Quem é você? Quem será você?
Se seu filho for gay? Se seu filho for preto? Se seu filho for uma pessoa com deficiência? E se você sofrer um acidente, e se tornar deficiente? O sexo com a pessoa preta (penso aqui todo o colorismo), é “só para o seu prazer”, ou você teria uma criança com a cor diferente da sua? Você adotaria uma criança preta? Ou o seu discurso só serve para embalar belas postagens e impulsionar publicações, pelo simples prazer de ter um belo alcance através dos algoritmos?
É necessário amar o diferente, o que você odeia diz mais sobre você, do que aquilo que diz amar.
Autor: Samir Dias
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Samir A. S. Dias
Psicólogo pela Faculdade Sul Fluminense, de Volta Redonda – RJ. Homem preto, apaixonado pela abordagem cognitivo comportamental, leitor assíduo de Skinner e Bauman. Acredito que a mudança de comportamento (individual e social), pode proporcionar condições diferentes para o ser humano se desenvolver.