Nem Bruxas, nem Heroínas: eram Mulheres
- Postado por Sonia Menezes
- Categorias Cidadania
Aos 8 de Março, comemora-se o Dia Internacional da Mulher.
As pessoas observam a data parabenizando as mulheres e muitas vezes tecendo elogios à sua bravura, resistência, força, determinação, tenacidade.
Essas características são facilmente observadas na maioria das vidas das mulheres contemporâneas, por causa da dupla e às vezes tripla jornada que enfrentam no seu cotidiano, fora o cumprimento de tarefas domésticas.
Esse elogio poderia ser bonitinho, e às vezes chega com o glamour da palavra heroína, meio que assinando embaixo, o reconhecimento da sobre-humana capacidade exigida, de uma mulher que é mãe, esposa, cuida da casa, faz atividade física, gerencia compras de alimentos e pagamentos de contas, organiza as visitas médicas e veterinárias e … uau… é uma mulher que deve se cuidar e ter a doçura que mantenha cativado seu parceiro.
E certamente, muitos itens foram deixados de fora dessa listinha singela.
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O pior chega na sequência: as mulheres são ensinadas a se sentirem valorizadas quando recebem esses elogios. Uma espécie de brasinha que se abana por baixo do carvão, pra que o fogo da esperança não se apague. Afinal, ninguém quer uma mulher deprimida, desgostosa, sobrecarregada, doente. Óbvio. Nem deveria, mesmo.
No entanto, a prática diária de lida com as mulheres é adoecedora, sim, tanto mental, quanto fisicamente. E por favor: parem de romantizar a heroína, a princesa, a leoa.
Todos esses elogios só servem pra escravizar a mulher no lugar de uma imensa sobrecarga, passando a mão na cabeça dela e dizendo “boa menina”. Essa é a mesma atitude que queimou as bruxas na fogueira. Prestem atenção: não eram bruxas. Eram mulheres!
O patriarcado destrói a todos, aos homens e às mulheres. Mas de forma desigual, matando a sensibilidade e a capacidade de se responsabilizar pela rotina doméstica que possibilita a vida profissional acontecer.
Essas características ‘não são coisas pra homem’. E as mulheres têm seu espírito achatado, desde pequenas, quando são submetidas a um emolduramento onde algumas atitude e atividades são estimuladas, em detrimento de outras.
Esse artigo é potencialmente infinito. Mas vou recortá-lo, de forma que aqui sejam apresentadas algumas dicas importantes para os leitores.
Importantes para os homens, para que tomem certos cuidados e importante para as mulheres, porque devem aprender a reconhecer, quando estiverem sendo submetidas a atitudes machistas.
Vamos lá: Homens, podem dar flores, sim, mas não se resumam a essa expressão, ela só tem valor se vier acompanhada de uma série de outras atitudes.
1) Dê flores e não interrompa uma mulher falando.
2) Dê flores e reconheça seus privilégios, não questionando quando uma atitude machista é apontada.
3) Dê flores e não julgue a assertividade como agressividade. Valorize quando uma mulher vai ao ponto do seu incômodo e isso cutuca você. Ela está ajudando você a se enxergar.
4) Dê flores e não ria de piadas machistas, entre homens, quando estiver presente. E diga a eles que isso é horrível, faça-os sentir vergonha.
5) Dê flores e parede dizer que “carregar um saco de cimento, você não quer”. Ninguém quer. E a maioria dos homens também não o faz. Pare de ser assim.
6) Dê flores e pare de considerar interesses femininos como fúteis. Se você não é uma mulher, não vai entender. Caso deseje entender, pergunte, crie interesse pelas mulheres. A maioria dos homens odeia mulheres, eles gostam é de sexo e da objetificação que incrementa suas fantasias eróticas.
7) Dê flores e não se ache incrível só porque consegue cuidar de suas roupas e comida. AS mulheres não recebem nenhum reconhecimento por isso, pois essas atividades foram delegadas a elas como obrigações e elas são mal vistas quando não se afinam com essas tarefas.
8) Dê flores e Nunca! Jamais! Chame, de novo, uma mulher de louca, quando ela estiver se expressando. Essa fala invalida absolutamente, tudo o que vem da mulher, e é um papelão você se comportar como uma vítima, das suas relações.
9) Dê flores e não tente fazer os ‘nãos’ que você recebe, se tornarem um ‘sim’. Isso é manipulação e mulheres não aguentam mais serem estupradas por seus parceiros, que não as respeitam.
10) Dê flores e tente estudar sobre masculinidade. Seja uma pessoa que se interessa pela evolução da humanidade, que, sim, se passa por pensamento crítico e envolve melhorias no comportamento de cidadania. Apoie feministas, sendo um homem que não quer ser machista, a despeito das grosserias que a hetero-cis-normatividade promove contra as mulheres cis e trans, com o apoio dos homens que, provavelmente, você mais admirou na vida. Seja melhor que isso.
Desejo a todas as mulheres força, sim, para fazerem a heroína entrar em remissão, para que equidade nos contemple, a ponto de sermos re-humanizadas.
Autora: Sonia Menezes
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Sonia Menezes é escritora e psicóloga clínica, especializada em telepsicologia. Com formação em Psicologia, conta com uma Extensão em Ética de Direitos Humanos, e é pós-graduanda em Antropologia e Psicologia Social , e também em Diversidade Sexual e de Gênero. Autora do livro “O Amor, o Amar e os Amantes – Uma conversa sobre relações mono e poliafetivas”. Idealizadora dos projetos:
*Rizoma – Psicologia e Saúde Integral
*Zeitgeist – Grupo de Reflexões sobre Tecnologia e Psicologia
*Co-criar – Mulheres da Mantiqueira
*LibertAmor – Estudos sobre Amor e Relacionamentos.
Amante da natureza, cultiva profundo respeito pela alteridade, solidarizando com os movimentos de libertação humana e libertação animal. Sonha com um mundo onde o sofrimento seja minimizado e acredita que o caminho é o despertar da consciência crítica.