Meditação como Ferramenta de Empoderamento Social
- Postado por Sonia Menezes
- Categorias Bem-Estar, Cidadania
Vocês já pensaram na meditação como ferramenta de autonomia, potência e pensamento crítico?
Convido a um passeio por essa perspectiva, mas antes, é importante trazer alguns embasamentos científicos, que me levam a essa reflexão, e acabam acolhendo essa ideia como uma possibilidade bem tangível. Assim, a gente pode partir de algum lugar, e contar com algumas premissas válidas.
Numa primeira aproximação, a prática de meditação ou mindfulness pode talvez ser percebida como uma atividade essencialmente mentalista, introspectiva, voltada à busca pelo bem-estar, conforto e satisfação pessoal o que, portanto, afasta o/a praticante do contato, reflexão e interação com as condições externas, objetivas e coletivas de vida, que poderiam ser materiais, sociais, culturais e políticas. Essa perspectiva não alcança a potência de autonomia, que é passível de ser alcançada pela prática.
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Pesquisas demonstram que após meditar por 8 semanas, o cérebro tem aumento de densidade de massa cinzenta em 3 regiões importantes:
1)Hipocampo esquerdo, responsável pelo aprendizado e memória, retenção de informações e transformação das memórias de curto prazo em longo prazo
2)Córtex Cingular Posterior, região que possui forte conexão com outras áreas cerebrais e está relacionada com o controle emocional e com a recuperação da memória
3)Junção temporoparietal, região associada à percepção e ao processamento de informações e também responsável pela empatia e compaixão
E não só essa regiões se ampliam, mas uma outra diminui: acontece a redução da amígdala, estrutura responsável pelas percepções de medo, estresse e ansiedade.
Meditar diminui pensamentos negativos, pois com uma presença mais acordada para o presente, há a diminuição da fantasia e das antecipações catastróficas. Diminui, também, as disfunções cerebrais, causadas por maus hábitos mentais, e com isso, diminui o cortisol.
Reduz propensão ao ataque cardíaco e avc. Em 2020, foi publicado um novo estudo norte-americano apontando que a meditação pode estar ligada a um menor risco de doença cardiovascular. Os pesquisadores usaram dados de uma pesquisa nacional realizada anualmente pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças, identificando todos os pacientes com colesterol alto, hipertensão, diabetes, derrame e doença arterial coronariana e dentre esses, todos os que relataram que meditavam. Das 61.267 pessoas na pesquisa, 5.851 participaram de alguma forma de meditação. Depois de controlar a idade, sexo, IMC, estado civil, tabagismo, duração do sono e depressão, os pesquisadores por trás desse estudo descobriram que meditar estava associado a um risco 35% menor de colesterol alto, risco 14% menor de pressão alta, risco 30% menor de diabetes, um risco 24% menor de derrame e 49% menor risco de doença arterial coronariana.
Aumenta o limiar da dor, reduzindo em 40% a intensidade da dor e 57% da dor em si – porque há um aumento do córtex cingulado, que alivia a angústia da dor e o sofrimento emocional em indivíduos com dores crônicas.
A área somatossensorial produz mais ondas médias no cérebro do meditador, o que reduz disfunções somatossensoriais.
Pesquisadores da Universidade de Michigan compararam dois tipos de respiração meditativa para reduzir a dor: a consciente tradicional e a de realidade virtual, ou seja, respiração consciente guiada por 3D. Eles descobriram que cada respiração diminuía a sensibilidade à dor ao modular o córtex somatossensorial, uma região do cérebro responsável pelo processamento da dor, mas cada uma usava mecanismos diferentes.
Com o grupo de respiração tradicional, a conexão funcional com as regiões frontais do cérebro aumentou, porque essa região estava focada nos detalhes sensoriais internos do corpo, chamados de interocepção.
Isso competia com os sinais externos de dor e inibia a capacidade do córtex somatossensorial de processar a dor. Esse processo segue a suposição comum de que a respiração atenta exerce seu efeito analgésico por interocepção, o que significa a reorientação consciente da atenção da mente para a sensação física de uma função de órgão interno. No grupo de realidade virtual, os participantes usaram óculos especiais e assistiram os pulmões de realidade virtual em 3D, enquanto respiravam atentamente. A tecnologia foi desenvolvida pelo laboratório e os pulmões foram sincronizados com os ciclos respiratórios dos indivíduos em tempo real. O processo forneceu um estímulo externo visual e de áudio imersivo. A sensibilidade à dor diminuiu quando as regiões sensoriais do cérebro (visual, auditiva) se engajaram com os estímulos sonoros e de imagem da realidade virtual imersiva. Isso é chamado de exterocepção, que sobrepôs a função de processamento da dor do córtex somatossensorial.
Meditar estimula o crescimento do córtex pré frontal dorsolateral, que aumenta a capacidade de superar hábitos ruins a partir de decisões, assim como implantar novos hábitos, de forma escolhida, e não automática(estudos com alcoolismo demonstraram que depois de um ano, alcoolistas meditantes recaíram, em 8%, contra 20% correspondentes aos não meditantes)
Maior concentração, conectividade, capacidade de lidar com as tensões, resistência contra distrações, melhora do tempo de ação sustentada.
Restauração e manutenção da saúde física e mental
O neurocientista Fabrício Assini ressalta que a meditação opera combatendo a bioquímica do sentimento de solidão, pois aumenta a ativação do sistema nervoso autônomo parassimpático, diminuindo os marcadores fisiológicos advindos do estresse da solidão (ativação do eixo Hipotálamo-Pituitária-Adrenal (HPA), que está relacionado com episódios psiquiátricos; produção de mediadores inflamatórios, como e principalmente a interleucina 6; inibição do sistema imune, em humanos. E alteração de funcionamento do sistema serotoninérgico, dopaminérgico e potencialização do sistema glutamatérgico, em animais, gerando anedonia e tristeza.
Elizabeth Blackburn, ganhadora prêmio Nobel de Genética, nos traz que a meditação provoca modificação genética no tamanho dos telômeros, que são as extremidades dos cromossomos. São parte do DNA não codificantes, cujo papel é proteger o material genético transportado pelo cromossomo. Essas células se dividem para cumprir a função de regenerar tecidos e órgãos do corpo; assim, os telômeros vão encurtando até o momento em que não consegue mais proteger o material genético do cromossomo e este perde sua capacidade funcional, pois não conseguem mais se reproduzir. Dessa forma, o tamanho dos telômeros é biomarcador do envelhecimento celular – quanto maior, mais preserva a capacidade regenerativa celular, quanto menor, mais limitante dessa capacidade. Como a meditação atua nisso? A meditação aumenta a produção da telomerase, a enzima que ajuda a reduzir o encolhimento dos telômeros. Isso mantém a juventude biológica das células, o que acaba funcionando como aliada contra o câncer. Então, está certo afirmar que meditar aumenta poder de restauração celular.
Agora vamos juntar os pontos:
1) Meditar nos fortalece e cria ambiente para mudar de hábitos a partir de escolhas conscientes
2) Desmonta a biofisiologia da solidão, que implica em neuroinflamações;
3) Reduz propensão a problemas cardíacos;
4) Reduz a dor, tanto em intensidade, quanto em si mesma
5) Promove controle emocional
6) Reduz a percepção de medo e ameaça, abaixa o stress de estarmos sempre alertas
7) Fortalece a memória e as faculdades intelectuais
8) Aumenta a empatia e a compaixão
9) Otimiza a regeneração celular
10) Reduz pensamentos catastróficos
Tudo isso me faz pensar numa pessoa vivendo com dor, medos, apreensões, de forma individualista e com mentalidade de escassez, concorrência e disputa. Esse perfil se encaixa a uma boa fatia da população, que não tem “espaço mental-existencial” pra desenvolver pensamento crítico. A meditação modula a mente para um funcionamento mais adaptativo, para uma vida mental mais lúcida.
Autora: Sonia Menezes
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Sonia Menezes é escritora e psicóloga clínica, especializada em telepsicologia. Com formação em Psicologia, conta com uma Extensão em Ética de Direitos Humanos, e é pós-graduanda em Antropologia e Psicologia Social , e também em Diversidade Sexual e de Gênero. Autora do livro “O Amor, o Amar e os Amantes – Uma conversa sobre relações mono e poliafetivas”. Idealizadora dos projetos:
*Rizoma – Psicologia e Saúde Integral
*Zeitgeist – Grupo de Reflexões sobre Tecnologia e Psicologia
*Co-criar – Mulheres da Mantiqueira
*LibertAmor – Estudos sobre Amor e Relacionamentos.
Amante da natureza, cultiva profundo respeito pela alteridade, solidarizando com os movimentos de libertação humana e libertação animal. Sonha com um mundo onde o sofrimento seja minimizado e acredita que o caminho é o despertar da consciência crítica.