Desigualdade entre Homens e Mulheres
Raízes do patriarcado e instalação do machismo na sociedade.
Estudiosos sobre as relações de gênero, como Judith Butler e Simone de Beauvoir irão discutir como se dá a instalação da hegemonia machista-patriarcal na sociedade, utilizando-se por base a compreensão de que o gênero não se materializa apenas na genitália, mas se configura num conjunto de multifatores biológicos, sociais, raciais, ambientais e culturais, cujo qual se reproduz performances binárias e, que se legitima a partir da associação aos aspectos da religiosidade.
No Brasil, apesar de seguir um regime democrático e se caracterizar pela laicidade do Estado, ainda é muito presente a influência da igreja católica e, consequentemente, do cristianismo como sustentáculo de defesa de práticas conservadoras. Nesse sentido, remonta-se a ideia do criacionismo, colocando a divindade em um deus, cuja imagem e semelhança o faz refletir na criação do homem (cisgênero, heterossexual e branco) e, a partir deste, o surgimento da mulher, que por consequência, estabelece um lugar de subordinação.
Essa história, além de inverter a lógica da concepção, leva a população a compreensão monoteísta e do gênero atribuído à divindade, como sendo masculino. Sob esta ótica, a complexidade se amplia quando esta mulher, em seu lugar de subalternidade, demonstra fragilidade, uma vez que faz o que não havia sido autorizado por este deus, levando ainda, o homem a cometer o mesmo “erro”.
Avançando-se os anos na mitologia cristã, a potencialização da masculinidade é reforçada quando este deus se materializa por meio do envio de um filho, com o mesmo padrão de gênero, raça/etnia e sexualidade, o qual estabelece relação salvacionista com a sociedade e, que através da propagação da história, fica reconhecido pelo ato heroico da morte crucificada e, posterior ressureição, em nome daqueles que n’ele criam.
Esses fragmentos do que foi convencionado a se perpetuar como história, são elementos utilizados pela igreja, que, por muito tempo ocupou lugar de poder, e, definiu papéis de gênero, estabelecendo espaços que são masculinos e outros que são femininos. O público e o privado.
Seguir esses ensinamentos se convencionou a caracterizar um modelo de família, composto por pai, mãe e filhos, produzindo e reproduzindo os papeis estabelecidos, onde, a depender do gênero, os filhos já são conduzidos, a partir do tipo de brincadeiras definidos com base na genitália.
Com a ampliação dos processos de caridade e institucionalização de políticas de cuidado e ensino, convencionou-se a viabilidade de incluir tais tarefas às mulheres, levando em consideração as aptidões, pré-estabelecidas pelo seu papel de gênero.
É com os adventos de Grandes Guerras Mundiais que se tornam aceitáveis novas configurações de família, tendo que, em muitos casos, as mulheres se responsabilizarem pelos papeis femininos e masculinos para suprir a ausência dos homens que, morriam ou ficavam feridos nas batalhas. Nesse momento, sem muitas alternativas, o mundo do trabalho começa a dar lugar a esses personagens femininos dentro do mercado.
Outros processos vão se desdobrar em garantir que as oportunidades entre homens e mulheres sejam dadas de forma proporcional. Se trata, por exemplo, das lutas de movimentos sociais, que, principalmente no período iluminista, teve grande ascensão e, veio reivindicar e conquistar espaços justos de ocupação para essas mulheres.
Direitos políticos, trabalhistas, sociais e muitos outros foram viabilizados a partir da organização de mulheres que foram protagonistas de suas próprias vozes e gritaram pela sua sobrevivência. Esses direitos foram o que fizeram o Brasil chegar em 2011, a ter a primeira presidenta mulher da história do país.
Oportuno mencionar que tais conquistas por si só não garantiram e não garantem sustentação. Os direitos adquiridos são diariamente atacados por comportamentos conservadores e machistas que insistem em acreditar que as mulheres são inferiores aos homens e, que, consequentemente, ocasionaram a destituição desta presidenta, utilizando-se de golpe de estado, por meio de processo de impeachment, com justificativas nocivas, mas com pesos desproporcionais, em detrimento de outros atores políticos do gênero oposto.
Esses retrocessos e desmanches atingem, especialmente, mulheres que vivem em classes sociais menos favorecidas e, principalmente, mulheres negras, que são colocadas à margem da sociedade. Essas mulheres, muitas das vezes são submetidas à insuficiência/nulidade de políticas públicas e expostas à incontáveis violações de direitos.
Mulheres em situação de rua, por exemplo, muitas das vezes necessitam se utilizar do trabalho sexual como estratégia de sobrevivência, sendo submetidas à exposição de infecções sexualmente transmissíveis e tendo seus direitos sexuais e reprodutivos desconsiderados. Mulheres transexuais e travestis são ainda mais expostas, tendo seus corpos objetificados e hipersexualizados. São vítimas de violência sexual, física, moral, patrimonial e, não tem a oportunidade de legitimar seu protagonismo na sociedade.
Com a ofensiva conservadora que se remonta na sociedade, é notório perceber as intencionalidades do patriarcado sobre os corpos femininos, sob a égide do papel de submissão. Essa vertente é reafirmada através dos índices de feminicídio e mortalidade de pessoas do gênero feminino que, se acentua, quando essas estão em posições ou lugares de poder. Nesse sentido, se configura salutar o fortalecimento de políticas para mulheres, bem como o incentivo e fomento de participação, controle social e democrático e, principalmente, apoio às lutas dos movimentos sociais que reivindicam interesses para esse gênero.
Gleydson Paiva
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